A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é um distúrbio gastrointestinal funcional crônico que afeta 9% a 23% da população em todo o mundo, representando grande parte da população. Os sintomas percebidos nesse quadro incluem, dor ou desconforto abdominal, distensão abdominal, diarreia e constipação. Nem todos os sintomas são gastrointestinais, por exemplo, a fadiga é muito comum e não se caracteriza por intestinal. Tem sido também conceituada como uma condição de hipersensibilidade visceral (levando a desconforto ou dor abdominal).
O termo “eixo cérebro-intestino” é bem esclarecido hoje em dia, e na ciência temos um amplo conhecimento da sua conexão. Quando o assunto é a SII essa conexão está ligada entre o trato gastrointestinal (com seu sistema nervoso entérico) e o cérebro (sistema nervoso central) através de vias neurais (autonômicas), neuroimunes e neuroendócrinas.
Como é desencadeado a síndrome?
Vários fatores estão implicados no desenvolvimento de sintomas de SII, incluindo desregulação do eixo intestino-cérebro, interrupção da permeabilidade intestinal, disbiose, disfunção da motilidade intestinal e fatores genéticos e psicossociais.
Quadro: Anormalidades do sistema intestino-cérebro na SII.
Gastrointestinal |
Motilidade intestinal alterada e tempo de trânsito |
Secreção/absorção de líquidos alterada |
Hipersensibilidade de aferentes viscerais |
Camada de muco alterada (SIBO) |
Doenças infecciosas |
Microambiente intestinal |
Composição alterada do microbioma |
Perfil alterado de ácidos biliares fecais |
Aumento da permeabilidade da barreira intestinal |
Neurológico |
Ansiedade |
Depressão |
Estresse |
Genético |
CADM2 |
SACO6 |
PHF2, FAM120AOS |
NCAM1 |
CKAP2, TPTE2P3 |
DOCA9 |
SCN5A |
Foi encontrado casos de pacientes que desenvolveram a SII após doenças infecciosas. Aproximadamente um em cada dez pacientes com SII acredita que a SII começou com uma doença infecciosa. Estudos prospectivos demonstraram que 3% a 36% das infecções entéricas levam a novos sintomas persistentes de SII. Estudos anteriores demonstraram que etiologias infecciosas como gastroenterite infecciosa e diverticulite estão associadas ao desenvolvimento de SII, que foi denominada SII pós-infecciosa.
SIBO E SII
A SIBO está associada a uma infinidade de sintomas, incluindo, inchaço, dor abdominal, náusea, prisão de ventre e diarreia. Estes problemas podem levar à má absorção, resultando em deficiências nutricionais, anemia ou hipoproteinemia. As bactérias características do supercrescimento bacteriano no intestino delgado incluem Streptococcus, Staphylococcu, Bacteroides e Lactobacillus.
SIBO frequentemente acompanha outras doenças do sistema digestivo, bem como outras condições. Numerosos estudos descrevem a ocorrência simultânea de SIBO e SII. Ambos os distúrbios estimulam o sistema imunológico, o que aumenta as citocinas pró-inflamatórias na mucosa intestinal e pode aumentar sua permeabilidade. Pesquisas sugerem que o SIBO também acompanha a doença celíaca.
A disbiose microbiana em geral contribui para a SII, podendo danificar os receptores de insulina, estimulando o sistema imunológico e causando aumento da produção de citocinas. Disbiose é caracterizada por uma desregulação das bactérias que compõem nosso trato gastrointestinal, causando uma condição clínica que predispões aos quadros patológicos.
Distúrbios pscicológicos
Ansiedade e depressão também são comuns na SII, e a maioria dos pacientes com SII apresentam níveis elevados de traço ansiedade e neuroticismo, ou seja, pessoas com instabilidade emocional. Tanto na ansiedade quanto na depressão se tem uma desregulação da serotonina, podendo ser na produção e absorção.
A liberação de serotonina no plasma parece ser reduzida naqueles com SII com predominância de constipação e aumentada em SII com predominância de diarréia.
Genética e SII
Como mencionado anteriormente, a genética faz parte das anomalias que podem desencadear a SII. Podemos citar o gene CADM2, onde em uma das suas funções incluem a regulação do estresse oxidativo e a neuroinflamação, fornecendo suporte de glicogênese e neurogênese, ou seja, energia para o cérebro.
Vale a pena notar que o CADM2 tem sido implicado em uma ampla gama de características psicológicas e neurológicas frequentemente observadas em pacientes com SII, como, características psicocomportamentais, comportamento de risco, características semelhantes ao nervosismo e distúrbios do desenvolvimento neurológico (por exemplo, deficiência intelectual e transtorno do espectro do autismo).
O NCAM1 desempenha um papel no sistema nervoso entérico em relação à migração celular, crescimento de axônios, plasticidade neuronal e fasciculação. Um conjunto de genes, incluindo NCAM1 e CADM2, estava envolvido particularmente com sintomas cognitivos/psiquiátricos, incluindo capacidade cognitiva geral, comportamento de risco, inteligência e neuroticismo
Como a serotonina é secretada pelas células enteroendócrinas e ativa neurônios sensoriais e motores entéricos, é provável que alterações no nível de expressão nos receptores e transportadores de serotonina desempenhem um papel potencial na hipersensibilidade visceral, dor, motilidade intestinal e secreção. Demonstrou-se que mutações genéticas no gene SCN5A prejudicam o peristaltismo e causam constipação.
Um dos maiores estudo dos últimos tempos com associação genômica e SII foi feito recentemente, com uma ampla de 53.000 casos. Neste estudo, os fatores de risco mais fortes para desenvolveram SII incluíram exposição prolongada ou recorrente a antibióticos na infância, condições de dor somática (dor nas costas, dor nos membros, dores de cabeça), condições psiquiátricas (ansiedade, depressão, preocupação excessiva) e fadiga. Os genes incluíam CADM2, PHF2/FAM120AOS, NCAM1, CKAP2/TPTE2P3 e DOCK9.
A genética é um fator muito importante para quadros clínicos, pois pode tratar com a melhor estratégia nutricional, se não souber como seu organismo funciona, através da genética, o resultado clínico fica comprometido.
Resumão
Abaixo está descrito os principais genes envolvidos na SII, para quem tem esse quadro clinico é importante verificar esses genes.
Quadro: Fatores genéticos na SII.
GENE | FUNÇÃO |
NCAM1 | Implicado em transtornos de humor/psiquiátricos, como neuroticismo Contribui para a sensibilização central, aumentando a conectividade neuronal. |
DOCA9 | Implicado no crescimento e desenvolvimento adequados dos neurônios do hipocampo. |
PHF2 | Essencial para aprendizagem e memória dependentes do hipocampo. |
CADM2 | Codifica um membro da família da molécula de adesão celular sináptica 1 (SynCAM) envolvida na organização e sinalização sináptica, mais abundantemente expressa no tecido cerebral. |
SACO6 | Envolvido no controle de qualidade de proteínas de membrana, apoptose, regulação genética e imunorregulação. |
CKAP2 | Codifica uma proteína associada aos microtúbulos que desempenha um grande papel na divisão celular durante a mitose e a proliferação celular. |
SCN5A | Medeia a permeabilidade ao íon sódio dependente de voltagem das membranas excitáveis, prejudicando o peristaltismo. |
Tratamento síndrome intestino irritável
Dieta
FODMAP consiste em carboidratos fermentáveis de cadeia curta pouco absorvíveis (mono, di e oligossacarídeos) e polióis. Esses elementos interagem com a microbiota intestinal, e os produtos resultantes da fermentação influenciam as células-tronco intestinais, induzindo uma baixa diferenciação das células endócrinas.
Estudos mostraram que uma dieta com FODMAPs afeta inchaço, dor abdominal e outros sintomas de SII em 70% dos pacientes
O intestino dos pacientes com SII apresenta uma densidade reduzida de células endócrinas. A expressão endócrina anormal do intestino causa dismotilidade intestinal, hipersensibilidade visceral e secreção anormal. A implementação de uma dieta low FODMAPs parece normalizar a densidade das células endócrinas do intestino.
Probióticos
Os pacientes com SII têm uma microbiota intestinal diferente da dos indivíduos saudáveis, que continua sendo a base para a manipulação de microrganismos intestinais para melhorar os sintomas da SII.
De acordo com estudos, o tratamento com doses baixas ou altas de probióticos por um período inferior a 8 semanas melhora significativamente os sintomas da SII e beneficia a qualidade de vida dos pacientes. Além disso, os probióticos de cepa única são mais eficazes nos sintomas do que na qualidade de vida. As bactérias com mais benefícios em pacientes com SII parecem ser Bifidobacterium infantis, S. cerevisiae e Lactobacillus plantarum.
Pessoas com distúrbios gastrointestinais, assim como outras doenças sistêmicas, podem estar com disbiose intestinal. Condições sinônimas de inflamação crónica têm consequências para a microbiota, mas a própria disbiose também perturba a homeostase do corpo, o que pode influenciar o desenvolvimento de doenças graves. Portanto é sempre importante o tratamento do intestino para melhorar sintomas, caso paciente apresente, e prevenção de doenças.
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REFERÊNCIAS
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MEYER, E.A.; RYU, H.J. Bhatt RR. The neurobiology of irritable bowel syndrome. Mol Psychiatry. v.4. p. 1451-1465, 2023.
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GALICA, A.N., GALICA, R.; DUMITRASCU, D.L. Diet, fibers, and probiotics for irritable bowel syndrome. J Med Life. v. 2. p. 174-179, 2022.