Modulação Neuroendócrino com Nutrição Ortomolecular e Nutrigenética na Tdpm

Milhões de mulheres em idade reprodutiva em todo o mundo são afetadas por sintomas pré-menstruais. Estima-se que 48% das mulheres sofrem de síndrome pré-menstrual (TPM) e 3% a 8% sofrem de transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM). A TPM/TDPM pode se manifestar por volta dos 14–15 anos de idade e persistir até a menopausa (idade média, 51 anos), com sintomas recorrentes mensalmente por aproximadamente 480 ciclos suscetíveis. 

A Associação Americana de Psiquiatria publicou critérios diagnósticos rigorosos para TPMD, onde os mais comuns frequentemente categorizados em sintomas como: alteração de humor, ansiedade, depressão, sensibilidade mamária, fadiga, irritabilidade, insônia, dor de cabeça, dificuldade de concentração.

Os mecanismos exatos envolvidos na fisiopatologia dos sintomas emocionais associados à TPM acredita-se estarem envolvidos com as flutuações cíclicas no estrogênio e na progesterona.

Estrogênio

O estradiol, um hormônio esteroide estrogênio, modula os níveis de serotonina alterando a expressão dos receptores 5-HT 2A e dos genes transportadores de serotonina em regiões do cérebro associadas ao comportamento e à emoção.

Mulheres com TPM/TDPM apresentam déficits de serotonina durante a fase lútea do ciclo menstrual, quando os níveis de estradiol diminuem, sugerindo uma possível sensibilidade aumentada aos efeitos do estradiol na regulação da serotonina.

Progesterona

Variações na progesterona e na alopregnanolona, ​​o principal metabólito da progesterona, também foram implicadas na TPM/TDPM. Pesquisas pré-clínicas indicam que o declínio dos níveis de progesterona durante a fase lútea tardia está associado ao aumento da ansiedade e a alterações na função do receptor de ácido γ-aminobutírico (GABA).

Em mulheres com TPM/TDPM, hipóteses propõem que a diminuição da sensibilidade do receptor GABA(A) a esteroides neuroativos, como a progesterona, e/ou níveis mais baixos de alopregnanolona podem resultar em sintomas depressivos e de ansiedade.

Nutrição e Modulação

A dieta mediterrânea é caracterizada pelo alto consumo de frutas, vegetais, grãos integrais, legumes, nozes e sementes, além de peixes e frutos do mar. O azeite de oliva é a principal fonte de gordura, enquanto o consumo de carnes vermelhas e produtos lácteos é moderado.

A abundância de vitaminas, antioxidantes, polifenóis e gorduras insaturadas nesse tipo de dieta pode ajudar a aliviar os sintomas da síndrome pré-menstrual (TPM). Por exemplo, frutas e vegetais, como morangos e espinafre, são ricos em vitaminas e antioxidantes que combatem o estresse oxidativo, um fator que pode agravar os sintomas da TPM. Além disso, o azeite de oliva, que é uma gordura insaturada saudável, e nozes, que contêm polifenóis, ajudam a reduzir a inflamação e promovem uma melhor saúde cardiovascular. O consumo regular de peixes, que são fontes de ácidos graxos ômega-3, também pode ter um efeito positivo no humor e na regulação hormonal, contribuindo para o bem-estar geral e ajudando a amenizar os sintomas da TPM.

De acordo com estudos, a alta ingestão de alimentos fontes de cálcio e vitamina D podem reduzir o risco de desenvolvimento de TPM, pois os níveis circulantes flutuam ao longo do ciclo menstrual em resposta às alterações endógenas do estrogênio. O zinco também pode aliviar os sintomas da TPM por meio de suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. As vitaminas hidrossolúveis do complexo B estão envolvidas no metabolismo dos neurotransmissores. Entre elas, a vitamina B6 atua como cofator na síntese de serotonina a partir do triptofano e pode reduzir os sintomas da TPM, semelhante aos efeitos dos multivitamínicos de amplo espectro.

Vitamina B6

Estudos demonstraram que 50 mg/dia de vitamina B6 (piridoxina) por 3 meses reduziram os sintomas emocionais (depressão, irritabilidade e cansaço) quando comparados com aqueles que receberam um placebo, e 150 mg/dia de vitamina B6 por 2 meses melhoraram significativamente os sintomas comportamentais (ou seja, baixo desempenho e afastamento de atividades sociais) 

Vitamina D

Em um artigo de revisão mostou que três estudos investigaram a suplementação de vitamina D (variando de 2.000 UI diariamente por 3 meses a 50.000 UI quinzenalmente por 4 meses) em participantes com deficiências de vitamina D, usando ferramentas validadas para medir os resultados da TPM, relatou uma redução significativa nos sintomas totais da TPM no grupo de tratamento em comparação com o grupo de controle.

Ômega 3

Em um estudo com 95 mulheres de 20 a 35 anos, as participantes tomaram 2 gramas de óleo de peixe ômega-3 todos os dias durante 10 dias seguidos, focando na fase lútea do ciclo menstrual. Esse período ocorre após a ovulação e antes da menstruação.

O estudo foi realizado ao longo de três meses e os resultados mostraram que esse consumo de ômega-3 ajudou a diminuir os sintomas mentais e comportamentais associados à TPM, como irritabilidade e mudanças de humor. Isso sugere que o óleo de peixe pode ser uma opção eficaz para aliviar esses sintomas em mulheres durante essa fase do ciclo menstrual.

Inflamação e hormônios

O estradiol e a progesterona têm propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes e seu declínio na fase lútea tardia leva ao aumento do estresse oxidativo endometrial e à síntese de prostaglandinas pró-inflamatórias, citocinas, quimiocinas e metaloproteinases de matriz.

Pesquisas extensas já relacionaram a inflamação crônica a transtornos psiquiátricos e somáticos com características comuns à TPM/TDPM grave, incluindo depressão, ansiedade, enxaqueca e síndrome da fadiga crônica.

Genética 

Algumas variações nos genes podem aumentar a chance de uma mulher desenvolver a síndrome pré-menstrual disforia (TPMD), que é uma forma mais intensa de TPM. Um estudo importante, realizado em 2007, encontrou uma ligação entre TPMD e variações em um gene chamado receptor de estrogênio 1 (ESR1), que está relacionado à forma como o corpo responde ao estrogênio, um hormônio importante para o ciclo menstrual.

Além disso, em experimentos com camundongos, foi descoberto que uma alteração específica em um gene chamado BDNF (que está relacionado ao crescimento e à função das células nervosas) pode causar comportamentos semelhantes à ansiedade e à depressão quando os camundongos recebem estradiol, um tipo de estrogênio.

Esses resultados são similares ao que acontece em mulheres com TPMD, sugerindo que essa variação genética pode afetar a maneira como o corpo lida com os hormônios e, consequentemente, influenciar o desenvolvimento de sintomas emocionais graves.

Conclusão

Estudos mostram que mulheres que enfrentam sintomas emocionais relacionados à TPM podem se beneficiar ao tomar suplementos de algumas vitaminas e minerais. Por exemplo, a vitamina B6 (com uma dose de pelo menos 50 mg por dia), cálcio (pelo menos 1000 mg por dia) e zinco (cerca de 30 mg por dia) podem ajudar a aliviar esses sintomas.

Além disso, durante o ciclo menstrual, especialmente em torno da ovulação e no início da menstruação, os níveis de substâncias inflamatórias chamadas citocinas aumentam. Esses marcadores inflamatórios podem interferir nas respostas ao estresse e na função de neurotransmissores, que são mensageiros químicos importantes para a saúde mental. Isso significa que as citocinas podem contribuir para problemas psicológicos que têm sintomas semelhantes aos da TPM. Portanto, a suplementação adequada pode ser uma forma de ajudar a controlar esses sintomas emocionais durante o ciclo menstrual.

Referências

​​Robinson J, Ferreira A, Iacovou M, Kellow NJ. Effect of nutritional interventions on the psychological symptoms of premenstrual syndrome in women of reproductive age: a systematic review of randomized controlled trials. Nutr Rev. 2025 Feb 1;83(2):280-306. doi: 10.1093/nutrit/nuae043. PMID: 38684926; PMCID: PMC11723155.

Tiranini L, Nappi RE. Recent advances in understanding/management of premenstrual dysphoric disorder/premenstrual syndrome. Fac Rev. 2022 Apr 28;11:11. doi: 10.12703/r/11-11. PMID: 35574174; PMCID: PMC9066446.

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