Como seus genes influenciam no seu comer emocional?

Quando uma pessoa se sente deprimida, triste ou com alguma emoção negativa, sua reação imediata é buscar conforto na alimentação, em comidas que vão lhe proporcionar determinado alívio emocional. Emoções e alimentação fazem parte do dia-a-dia, não tem como separar os dois, eles caminham juntos e vários mecanismos psicológicos provavelmente estão por trás do comer emocional.

Mesmo sabendo disso, nós ainda agimos assim, porque?

DEPRESSÃO E COMER EMOCIONAL

A depressão é uma doença multifatorial, o que significa que há muitas coisas que contribuem para a doença. A depressão representa uma emoção negativa que pode desencadear pessoas ao comer emocional e a ingestão de alimentos que geram prazer imediato. Alguns estudos têm demonstrado que existe uma relação entre o “o ato de se alimentar e o estado emocional do indivíduo” a exemplo do comportamento e sintomas que antecedem e/ou caracterizam a ansiedade e a depressão.

A alimentação emocional foi proposta para representar um marcador de depressão atípica (aumento do apetite, ganho de peso), pois compartilha com esse subtipo de depressão a característica atípica de aumento do apetite em resposta ao sofrimento.

Existe uma forte relação entre depressão e obesidade, onde a depressão pode levar ao ganho de peso subsequente e ao desenvolvimento da obesidade, e a obesidade pode levar ao desenvolvimento de um quadro clínico de depressão. O acúmulo de evidências sugere que a alimentação emocional é um caminho que liga a depressão ao ganho de peso e obesidade.

Os fatores genéticos têm uma influência substancial na variação de peso e comer emocional. Estudos epidemiológicos mostram que cerca de 40% a 50% do risco de depressão é genético. Isso torna a depressão um distúrbio altamente hereditário.

Vídeo sobre Comer Emocional

GENÉTICA DO TRANSTORNO EMOCIONAL

Os polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) é uma variação na sequência de DNA que afeta uma base na sequência do genoma entre indivíduos de uma espécie. Evidências sugerem uma forte correlação entre vários SNPs e biologia cerebral alterada. Os SNPs alteram ligeiramente os códigos dos genes, o que resulta em uma proteína que melhorou ou reduziu funções, ou se tornou inativa, podendo desempenhar papéis fundamentais no desenvolvimento de várias patologias, especificamente no tecido cerebral.

Em condições normais, a liberação de neurotransmissores é perfeitamente sincronizada e garantem uma saúde cerebral perfeita. Porém, se existir um desequilíbrio na liberação ou absorção dos neurotransmissores, podem se desenvolver condições como depressão, ansiedade, transtorno bipolar e TDAH.

Os neurotransmissores que desempenham papeis importantes na manutenção da função neuronal incluem: 

  • Dopamina – É conhecida como um dos hormônios da felicidade e quando liberada provoca a sensação de prazer, satisfação e aumenta a motivação.
  • Serotonina – É uma mensageira que transporta, estimula e equilibra sinais entre as células nervosas e outras células do corpo. A serotonina tem um trabalho relacionado aos sentimentos de satisfação e bem-estar.
  • Noradrenalina – É uma das monoaminas (também conhecidas como catecolaminas) que mais influencia o humor, ansiedade, sono e alimentação.
  • Acetilcolina – A acetilcolina atua em funções como controle do movimento e regulação da memória, aprendizado, atenção e sono.
  • Glutamato – O principal neurotransmissor excitatório atua no desenvolvimento neural, na plasticidade sináptica, no aprendizado, na memória e possui papel fundamental no mecanismo de algumas doenças neurodegenerativas.
  • GABA – Neurotransmissor inibitório. O GABA é secretado durante o repouso e é capaz de acalmar o cérebro, regulando a atividade dos neurônios, auxilia no combate à ansiedade, ao estresse e até ao medo.
  • BDNF – Desenvolvimento e maturação do sistema nervoso, plasticidade sináptica durante os processos de aprendizagem e memória, e, sobrevivência neuronal.

A concentração dos neurotransmissores, a disponibilidade dos seus receptores associados as funções das enzimas que degradam estes neurotransmissores, trabalham em conjunto de uma forma orquestrada para regular de perto a performance cerebral e mental.

O fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) é fundamental para o neurodesenvolvimento, a formação das redes neurais e a plasticidade neural. Já foi comprovado que um polimorfismo funcional (rs6265) no gene do BDNF em seres humanos, altera o processamento e o tráfego intracelular do BDNF, tendo como consequência a redução da secreção do BDNF. Indivíduos que sofrem de depressão grave tendem a ter níveis mais baixos de fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF).

BDNF E DEPRESSÃO

Desde que a importância do BDNF no funcionamento emocional foi descoberta, a maioria dos medicamentos antidepressivos foram considerados viáveis ​​apenas se conseguissem normalizar os níveis de BDNF. Sabe-se que os medicamentos Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (ISRS), por exemplo, ativam a sinalização mediada pelo BDNF e podem reverter a perda de neurônios no cérebro.

É importante notar também que o estresse pode induzir alterações epigenéticas que afetam o gene BDNF e, como resultado, alterar a estrutura e a capacidade funcional, levando aos quadros de depressão. Intervenções que visam combater estas alterações epigenéticas negativas podem aumentar a suscetibilidade à psicopatologia.

NUTRIGENÉTICA como terapia para a depressão?

O tratamento e a prevenção da depressão podem começar pela avaliação do genoma de uma pessoa. Identificando os genes suscetíveis a depressão iniciar uma análise no estilo de vida, na dieta e nas influências ambientais para o fenótipo. A partir desse estudo bioquímico e comportamental do paciente, iniciar intervenções personalizadas que visam a síntese anormal de proteínas, inflamação, disfunção imunológica, sinalização sináptica deficiente e subdesenvolvimento de neurônios.

Tratamento com produtos naturais como a curcumina demonstraram uma capacidade de alterar a expressão de genes específicos ligados à função cognitiva e ao humor, e mostraram benefícios em tratar sintomas de depressão.

Ácidos graxos ômega-3 é composto por ácido docosahexanóico (DHA) e o ácido eicosapentanóico (EPA), ambos os compostos ajudam a diminuir a inflamação no tecido cerebral e estimulam o desenvolvimento adequado do cérebro.

O 5-HTP é um bom complemento para a depressão, porém pode ter efeitos colaterais muito desagradáveis dependendo da dosagem, podendo também afetar outros neurotransmissores.

Diante do exposto acima, ressalto a importância do acompanhamento de um profissional especialista para acompanhar seu quadro clínico e ajustar seus suplementos em doses adequadas.

REFERÊNCIAS

KONTTINEN, H.Emotional eating and obesity in adults: the role of depression, sleep and genes. Proceedings of the Nutrition Society. v. 79. p. 283-289, 2020.

NESTLER, E J; BARROT, M; DILEONE, R J; EISH, A J; GOLD, S J; MONTEGGIA, L M. Neurobiology of Depression. Neuron. v. 34, 2002. BOULLE, F; HOVE, D V D; JAKOB, S B; RUTTEN, B P; HAMON, M; VAN OS, J; LESCH, K P; LANFUMEY, L; STEINBUSCH, H W; KENIS, G. Epigenetic regulation of the BDNF gene: implications for psychiatric disorders. Molecular Psychiatry. v. 17, 2012.

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